“O pensamento escolhe. A Ação realiza. O homem conduz o barco da vida com os remos do desejo e a vida conduz o homem ao porto que ele aspira a chegar. Eis porque, segundo as Leis que nos regem, a cada um será dado segundo suas próprias obras”.

(Emmanuel)

sexta-feira, 22 de abril de 2011

APRENDENDO A DAR VALOR - PESSACH 5771


Certa vez um rabino foi até a cobertura de um edifício para apreciar a vista e se deparou com um homem que estava prestes a pular. O rabino tentou puxar uma conversa com o homem, que estava muito nervoso, e perguntou qual era o motivo pelo qual ele queria acabar com a vida daquela maneira. O homem relatou os tremendos sofrimentos e dificuldades pelos quais estava passando na vida. O rabino entendeu a dor que o homem sentia, mas fez uma pergunta:

- Com todo este sofrimento pelo qual você está passando, se você também fosse cego, seria melhor ou pior?

O homem concordou que, se fosse cego, certamente sua situação seria ainda pior. O rabino então continuou:

- Imagine então que você tivesse nascido cego e estivesse prestes a se matar pelos mesmos motivos que você quer se matar agora. Se no instante que você fosse pular um milagre acontecesse e você ganhasse a visão, mesmo assim você pularia?

- Não, rabino. Se este milagre acontecesse eu não pularia.

- Por que não? – perguntou o rabino, curioso – seus problemas continuariam os mesmos!

- É verdade – respondeu o homem – mas quando o milagre tivesse me trazido de volta a visão, eu iria aproveitar para ver o que eu havia perdido durante anos de escuridão. As cores, a natureza, a beleza do mundo. Sentir a alegria de ver meus amigos, minha família e um belo pôr-do-sol na praia.

- Mas você pode ver tudo isso agora – conclui o rabino – pois você não nasceu cego. Por que você não aproveita que tem olhos e vai ver tudo isso que você me descreveu?

- Pois eu já estou acostumado com tudo isso – respondeu o homem.

- Então entenda algo. Não faltam bons motivos para você continuar vivo, falta você enxergar os motivos. Se você foca no que você não tem e no que dá errado na sua vida, esta é a chave da sua desgraça e infelicidade. Mas se você quer ser feliz, você deve focar no que você tem e nos acertos que você fez na vida!

O homem, ao escutar estas sábias palavras, desceu do muro. Ele entendeu que certamente tinha muitas coisas boas que recebia todos os dias e nunca havia dado valor.

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Na última segunda-feira de noite (18 de abril) começou a festa de Pessach. A noite se inicia com o Seder, no qual nos sentamos com nossas famílias e amigos e recontamos toda a história da saída do Egito e os milagres e bondades que D'us fez para nos salvar da escravidão física e espiritual. A noite do Seder de Pessach é uma noite voltada ao agradecimento a D'us por todas as bondades que Ele nos fez e nos faz a cada instante. E na própria Hagadá nossos sábios fixaram textos de reconhecimento e agradecimento.

Explica o Talmud que para cumprirmos a obrigação de recontar a nossa saída do Egito, precisamos começar a contar as coisas ruins antes de contar as coisas boas. E o Talmud traz duas opiniões sobre o que é considerado o início ruim. Segundo uma das opiniões, devemos começar mencionando a escravidão no Egito, enquanto segundo a outra opinião devemos começar mencionando que nossos antepassados, antes de Avraham, eram idólatras.

Ao observarmos a Hagadá, vemos que as duas opiniões do Talmud foram aceitas, pois a Hagadá descreve a nossa escravidão no Egito e menciona também os nossos antepassados idólatras. Por que as duas opiniões foram utilizadas? Pois nossos sábios entenderam que as duas opiniões nos ensinam alguma lição fundamental sobre a característica de "Hakarat Hatóv" (agradecer por uma bondade recebida).

Segundo a opinião que devemos começar pela escravidão, o ensinamento é mais fácil de ser entendido. Para sermos realmente agradecidos pelo que temos, precisamos contrastar a situação atual positiva com os sofrimentos passados e as dificuldades pelas quais passamos para atingir os bons resultados. Por exemplo, quando a pessoa chega a uma situação financeira confortável na vida, é muito fácil esquecer todas as bondades que D'us fez. Portanto, se a pessoa quer de verdade agradecer a D'us com toda a sua força, ela deve constantemente lembrar-se dos momentos difíceis, quando mal podia se sustentar, pois isso ajuda a despertar o sentimento de gratidão por D'us. O mesmo devemos fazer no Seder de Pessach: começamos lembrando da terrível escravidão e dos sofrimentos que nos eram infligidos no Egito para podermos realmente apreciar a bondade de D'us nos ter retirado de lá.

Mas de acordo com a outra opinião, que devemos começar a Hagadá lembrando que nossos antepassados eram idólatras, qual é o ensinamento que fica para nós sobre o agradecimento? No que ajuda, em termos de reconhecer as bondades de D'us, recordar esta "mancha" do passado?

Uma das características que D'us mais abomina nos seres humanos é o orgulho e a arrogância. A pessoa que é arrogante vive como se o mundo tivesse sido criado para ela, de forma que tudo o que as pessoas fazem é visto como uma mera obrigação. Por isso, um dos fatores que mais afasta a pessoa do sentimento de agradecimento é a arrogância. A pessoa sente que merece tudo o que recebeu e por isso não há nenhuma necessidade de agradecimento. É como se as pessoas não tivessem feito nada de especial por ela, pois afinal, ela se sente no direito de esperar que as pessoas a sirvam. Já a pessoa humilde sente justamente o contrário. Ela tem sempre um grande sentimento de agradecimento no seu coração, pois sente que não merece nada. Por isso, tudo o que alguém faz por ele é especial, é uma grande bondade, e ele se sente na obrigação de agradecer e reconhecer.

Portanto, é este o propósito de começar a Hagadá lembrando que nossos antepassados eram idólatras. Quando colocamos no coração que éramos descendentes de idólatras, isto quebra o nosso orgulho e nos torna humildes. Não temos que andar de nariz empinado, pois nossos antepassados se curvavam para ídolos de madeira e pedra e, se não fosse a bondade de D'us, seríamos idólatras até hoje, como está explicito na Hagadá: "No começo nossos antepassados serviram ídolos, e agora D'us nos aproximou para que servíssemos a Ele". Não está escrito "éramos idólatras e por nossa inteligência deixamos de ser", e sim "éramos idólatras e D'us nos aproximou", com Chessed e não pelos nossos méritos.

Este é um ensinamento que devemos levar para nossas vidas, não apenas durante Pessach, mas durante o ano todo. Devemos sentir que não merecemos nada, e tudo o que os outros fazem por nós é uma grande bondade. Se conseguirmos trabalhar esta característica de reconhecer as bondades que recebemos dos outros, chegaremos a reconhecer as bondades que recebemos de D'us a cada instante. Infelizmente vivemos como se D'us tivesse a obrigação de nos dar, todos os dias de manhã, a visão, a audição e a possibilidade de andar. Mas a verdade é que Ele não tem obrigação nenhuma. Tudo o que Ele faz é por bondade. Quem tem obrigação somos nós. A obrigação de reconhecer e agradecer por todas as bondades que recebemos, o tempo inteiro, que fazem a nossa vida, apesar dos problemas e dificuldades, valer muito a pena.

SHABAT SHALOM e PESSACH KASHER VE SAMEACH

Rav Efraim Birbojm 

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HORÁRIO DE ACENDIMENTO DAS VELAS DE SHABAT:
São Paulo: 17h35  Rio de Janeiro: 17h20  Belo Horizonte: 17h27  Jerusalém: 18h27

HORÁRIO DE ACENDIMENTO DAS VELAS DE YOM TOV (1º dia):
São Paulo: 17h32  Rio de Janeiro: 17h18  Belo Horizonte: 17h25  Jerusalém: 18h29

HORÁRIO DE ACENDIMENTO DAS VELAS DE YOM TOV (2º dia, fora de Israel):
Acender depois de  São Paulo: 18h23  Rio de Janeiro: 18h09  Belo Horizonte: 18h15
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