“O pensamento escolhe. A Ação realiza. O homem conduz o barco da vida com os remos do desejo e a vida conduz o homem ao porto que ele aspira a chegar. Eis porque, segundo as Leis que nos regem, a cada um será dado segundo suas próprias obras”.

(Emmanuel)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

SUPERVISÃO DIVINA - PARASHÁ MISHPATIM 5771

"Robert era uma boa pessoa. Mas em certa fase de sua vida começou a andar com um grupo de pessoas desocupadas do reinado e estas o levaram para o mau caminho. Começou participando de pequenos delitos até que, com o tempo, começou a fazer realmente maus atos. Certa vez, ao assaltar uma loja, tentou fugir após machucar o dono, mas foi surpreendido pelos guardas reais, que escutaram os gritos da vítima. Robert foi preso, julgado e condenado a receber 30 chicotadas.
No dia da aplicação da pena, Robert estava em pânico. Eram muitas chicotadas, ele sabia que doeriam muito. Foi quando ele viu que a pessoa que aplicaria as chicotadas era um velho amigo de infância. Robert conseguiu convencê-lo a não aplicar a pena e saiu, feliz da vida, sem receber o castigo.
Porém, mal Robert havia sentado no sofá de sua casa quando escutou batidas na porta. Eram os guardas do rei, que novamente o agarraram e o levaram de volta para a prisão. Ele gritou, tentou argumentar que já havia conseguido cancelar o decreto das chicotadas, mas foi em vão. Desta vez a pessoa escolhida para aplicar as chicotadas era um completo desconhecido. Robert recebeu as chicotadas e depois foi libertado.
No dia seguinte, ainda muito dolorido, Robert pediu uma audiência com o ministro da justiça. Ele estava inconformado por ter recebido as chicotadas, pois as considerava injustas. O ministro escutou e, após refletir um pouco, respondeu:
- Você é um grande tolo mesmo. As chicotadas foram justas, sim, pois você errou e teve que pagar por seus erros. Você realmente pensou que poderia escapar do seu castigo apenas convencendo um simples funcionário do rei? O único que poderia ter cancelado seu castigo era o próprio rei, e ele somente teria feito isso se tivesse visto que você estava realmente arrependido do caminho que estava seguindo. Ao tentar enganar o rei, você provou que não mudou suas atitudes, então o castigo foi mais do que merecido. Quem sabe agora, daqui para frente, você endireite seus atos"
Os sofrimentos que recebemos neste mundo têm propósito, e todos eles são supervisionados por D'us. Não existe sofrimento que vá contra a Sua vontade. É ele quem decreta, e é somente Ele quem pode mudar os decretos, caso estejamos arrependidos. Não há como enganar a D'us.
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Nesta semana lemos a Parashá Mishpatim, que traz muitos ensinamentos sobre o comportamento "Bein Adam Lehaveiró" (entre o homem e o seu companheiro), inclusive no que se refere ao pagamento de compensações monetárias em casos de danos físicos que um causa ao outro, como por exemplo, no caso de uma agressão, como está escrito: "E quando duas pessoas brigarem e uma golpear a outra com uma pedra ou com o punho, e este não morrer mas cair de cama. Se ele se levantar e conseguir andar fora com um apoio, o golpeador estará absolvido, somente pagará o tempo que ele permaneceu de cama e a sua cura" (Shemot 21:18,19). O versículo nos ensina que quando um agressor atacar outra pessoa, caso não ocasione um ferimento mortal, estará absolvido de uma pena capital, mas será obrigado a ressarcir todos os prejuízos causados ao próximo. Além disso, o final do versículo ensina que D'us dá permissão aos médicos para fazer os esforços necessários para salvar a vida de um doente e curá-lo.
A palavra que designa "cura", em hebraico, é "Refuá". Mas se prestarmos atenção no versículo, a linguagem utilizada é repetitiva, "rapó ierapê". Por que a Torá, que é sempre tão concisa, "gastou" esta palavra a mais? Os comentaristas explicam que poderíamos pensar que a permissão de curar dada aos médicos seria apenas quando a doença fosse causada por outro ser humano, como em uma briga, mas se fosse uma doença "vinda dos céus", isto é, sem participação humana, seria proibido ao médico curar, pois seria como ir contra a vontade de D'us. A repetição da linguagem de cura é para nos ensinar que mesmo em doenças "vindas do céu" também há permissão para o médico curar. Porém, por que a Torá escolheu ensinar sobre decretos celestiais justamente em um versículo que fala sobre a briga de duas pessoas e os danos causados por ela?
Quando alguém nos ofende, nos agride ou nos causa um dano, dificilmente perdoamos o agressor. Ficamos chateados, nos sentindo injustiçados pela agressão, com um grande desejo de vingança. Mas, segundo o judaísmo, o que parece ser um sentimento natural é um problema, pois guardar rancor e se vingar são duas graves proibições da Torá. Se a Torá foi entregue para seres humanos e não para anjos, isto significa que somos capazes de cumprir todas as Mitzvót. Então como é possível não guardar rancor de quem nos magoou ou nos ofendeu?
Explica o rabino Isroel Meir HaCohen, mais conhecido como Chafetz Chaim, que desta Parashá aprendemos um dos fundamentos espirituais mais importantes do judaísmo, que pode mudar a forma como olhamos o mundo e como vivemos nossa vida. O versículo que nos ensina sobre decretos celestiais começa com a briga entre duas pessoas para nos ensinar que, na verdade, não há nenhum tipo de sofrimento que não seja um decreto de D'us. Mesmo quando alguém nos magoa, nos ofende ou nos machuca, tudo foi decidido nos mundos espirituais e tem supervisão Divina. O que isto significa? Que é uma tolice ficar bravo com quem nos fez um mal ou nos causou um prejuízo, pois se não fosse esta pessoa, D'us mandaria através de outra pessoa. O transgressor é apenas um intermediário da vontade Divina. A verdadeira causa dos nossos sofrimentos são as nossas próprias transgressões.
Mas então onde está a justiça? Se a pessoa que agrediu o outro estava apenas cumprindo o que foi decretado por D'us, então por que ela é punida por seu ato e precisa pagar os prejuízos causados? Pois na verdade D'us utiliza o nosso próprio livre-arbítrio para cumprir a Sua vontade, sem percebermos. D'us manda coisas boas através de boas pessoas e coisas ruins através de pessoas ruins. Por exemplo, se foi decretado nos mundos espirituais que uma pessoa precisa receber um tapa, D'us utiliza o livre-arbítrio de alguém com má índole para cumprir o decreto. Ele junta as duas pessoas, o agressor e o agredido, na mesma cena, cria um motivo para uma discussão e o resto eles fazem sozinhos. D'us cumpriu Sua vontade sem que nenhum dos dois percebesse. E no final, o agressor também será cobrado, pois apesar de cumprir o que D'us decretou, o fez por vontade própria e com más intenções. Então ele deve pagar os prejuízos causados.
Se D'us tem controle sobre tudo, então por que Ele permite que os sofrimentos cheguem até nos? D'us, num ato de grande bondade, nos manda os sofrimentos para que possamos fazer a limpeza dos nossos erros ainda neste mundo. Cada ato tem conseqüências, e as nossas transgressões mancham nossa alma. Se não fossem estas pequenas limpezas diárias, não conseguiríamos passar pelo grande julgamento que ocorre no momento em que saímos deste mundo. Pode até soar estranho, mas se tivéssemos claridade disso, chegaríamos a agradecer a alguém que nos magoou ou nos ofendeu. Além disso, a forma que D'us nos manda os sofrimentos também é uma lição de vida. Se alguém nos magoou, é por que magoamos alguém. Se alguém nos causou uma perda financeira, é por que causamos uma perda financeira a alguém. Ao passar por um sofrimento, se procurarmos com sinceridade, encontraremos o ponto em que erramos e poderemos consertar.
Se por um lado podemos aprender com os sofrimentos, por outro lado há uma maneira de escapar deles: fazendo constantemente Cheshbon Hanefesh (reflexão sobre nossos atos), pois assim conseguiremos corrigir nossos erros antes de D'us precisar nos limpar e nos despertar com um sofrimento. Para mudar um decreto espiritual, precisamos nos conectar diretamente com o Criador. É o que dizemos em Rosh Hashaná e Yom Kipur: "Três coisas mudam um mau decreto: Teshuvá (arrependimento), Tefilá (reza) e Tzedaká (caridade)".
Nossos sábios ensinam que o mundo inteiro é sustentado por aqueles que fecham a boca no momento da discussão. Por que este mérito tão grande? Pois uma pessoa que foi ofendida somente consegue fechar a boca numa discussão se entendeu e colocou no coração o fundamento de que tudo é decretado nos mundos espirituais e tudo é, no final das contas, para o nosso próprio bem.
SHABAT SHALOM
Rav Efraim Birbojm

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